Os aviões e helicópteros do Batalhão de Operações Aéreas (BOA) do Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina (CBMSC) estão à disposição da corporação para o cumprimento de missões de bombeiro militar, saúde, segurança pública, defesa civil, meio ambiente, missões humanitárias, incluindo apoio a órgãos das esferas municipal, estadual e federal.
As aeronaves recebem a denominação “Arcanjo”, cuja sequência numérica é crescente, conforme ordem de aquisição, partindo do 01. Além da normativa estadual e interna do CBMSC, o emprego do BOA condiciona-se às regras do comando da Aeronáutica e da Agência Nacional da Aviação Civil (ANAC) para as Unidades Aéreas Públicas (UAP).
O acionamento dos Arcanjos poderá ocorrer de diversas formas. Para compreensão inicial, na aviação há uma normativa que se intitula “SOP”, sigla da língua inglesa para “Standard Operating Procedures” (Procedimentos Operacionais Padronizados), cujo objetivo é regular e padronizar protocolos em todas as áreas envolvidas na operação.
Desta forma, o BOA como uma UAP possui SOPs e diretrizes operacionais que regulam o acionamento das aeronaves, as quais trazem como classificação das missões as seguintes: de Urgência/Emergência (MUE), sendo estas as mais usuais na rotina de voo do batalhão; missão de Ajuda Humanitária (MAH), missões planejadas (MP), dentre outras.
Missões de Urgência/Emergência (MUE) são aquelas cujo atendimento impõe a condição de urgência ou emergência, tendo em vista um perigo imediato ou grave risco de vida de pessoas, onde a intervenção do CBMSC e do SAMU Aeromédico de SC não pode ser adiada, suspensa ou não realizada. Caracterizam-se como atendimentos primários ou secundários, além de ameaças ao meio ambiente.
Por ocorrências primárias se entende que são aquelas em que há risco iminente de vida ou de agravamento do quadro se não tratada brevemente e na qual o tempo resposta poderá ser significativo para o resultado do atendimento, independente de estar assistido ou não por equipe de suporte avançado (exemplos: afogamentos, acidentes de trânsito, paradas cardiorrespiratórias, infarto agudo do miocárdio), além de buscas, resgates, combate a incêndios florestais etc. Estas missões são eminentemente realizadas pelos helicópteros (aeronaves de asa rotativa), sendo a atual frota composta pelos “Arcanjos” 01 e 03. A saber, o Arcanjo-01 fica baseado em Florianópolis, no aeroporto internacional Hercílio Luz, e o Arcanjo-03 fica baseado em Blumenau, no aeroporto Quero-Quero.
Já as ocorrências secundárias são aquelas na qual o paciente já se encontra assistido por equipe de suporte avançado, fixo ou móvel. Embora ainda dependente de tempo, o quadro do paciente é estável e o emprego da aeronave viabiliza um ágil encaminhamento a um serviço de saúde de maior complexidade e adequação ao seu caso. Estas missões são eminentemente realizadas pelos aviões (aeronaves de asa fixa), sendo a atual frota composta pelos “Arcanjos” 02, 04 e 06. Todos os aviões ficam baseados em Florianópolis, no aeroporto internacional Hercílio Luz, pois são aeronaves cuja performance permite cruzar o estado em 01h30 de voo, o que facilita a logística da operação por parte da gestão de pessoal e de manutenção da frota.
As missões de Ajuda Humanitária (MAH) consistem nos transportes aéreos de pacientes, medicamentos, órgãos/tecidos vitais, vacinas, mantimentos, dentre outros, geralmente efetuados de inopino e utilizando-se os recursos previamente disponíveis. Neste tipo de missão, por exemplo, já foram realizados mais de 200 voos transportando órgãos e/ou mantimentos como vacinas, operação esta praticada em larga escala no período da pandemia do COVID-19, pois foi um período de corrida contra o tempo para atender o mais rápido possível os municípios do interior.
Por fim, as missões planejadas (MP) são aquelas que, não se enquadrando nas situações de MUE, e MAH, dividem-se em de rotina ou eventuais. As de rotina são aquelas precedidas de planejamento, com o objetivo de suprir a necessidade da periodicidade e da prevenção. Incluem aqui os patrulhamentos preventivos aéreos regulares e os treinamentos para a formação e manutenção técnica das tripulações. Já as eventuais são aquelas de apoio ao CBMSC, bem como a outros órgãos públicos municipais, estaduais e federais. Como exemplo de apoio ao CBMSC, a aeronave já conduziu a equipe de cinotécnicos e os cães para apoio a desastres naturais nos estados de Pernambuco e Rio de Janeiro. E, por vezes, apoia a Defesa Civil do estado de SC conduzindo técnicos para inspeção em obras e barragens no interior, apoio ao Tribunal Regional Eleitoral nas últimas eleições na condução em segurança das urnas de votação para passagem por inspeção dos órgãos competentes.
Já definidos quais são os tipos de missões que as aeronaves realizam, é importante frisar como se dá a entrada do chamado
Os Arcanjos poderão ser acionados pela Central de Operações do Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina (COBOM), Regulação do SAMU, Central Estadual de Regulação de Transferências Inter Hospitalares (Cerinter), SC Transplantes, Polícia Militar de SC (PMSC), Polícia Rodoviária Federal (PRF), Polícia Civil (PC), Defesa Civil e demais instituições ou pessoas responsáveis pelo atendimento de urgência e emergência de SC e de outros Estados. Os acionamentos devem ser via rádio ou por telefone. Demais formas poderão ser utilizadas em complemento ao acionamento para repasse de informações complementares ao acionamento. Todas as ocorrências serão gerenciadas pelos pilotos de serviço, que são oficiais do CBMSC, que desempenham a função de Comandante da Aeronave ou Comandante de Operações Aéreas.
Eles irão coletar o máximo de informação possível (natureza da ocorrência, apoio no local, situação geral da vítima e, demais informações pertinentes de acordo com a natureza da ocorrência), em especial o local exato da ocorrência com a coordenada geográfica ou, se for ocorrência de transporte aeromédico, o piloto deverá coletar as informações referentes a localização da ocorrência (de onde – para onde) para verificar a logística do transporte relacionada a operação (alcance de voo, necessidade de reabastecimento), coordenações necessárias nos aeroportos, meteorologia, dentre outros aspectos da operação.
Outro profissional que participa deste elo na coordenação dos voos dos Arcanjos é o Médico Regulador de Voo (MRV), pertencente ao quadro do SAMU Aeromédico de SC. Desempenha trabalho minucioso e vital, pois é quem fará a ligação entre os pedidos de voo que entram da Secretaria de Estado da Saúde de SC (SES/SC) para atender pacientes atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), verificando apoios locais do hospital de origem e destino, vaga dos leitos, se os exames médicos estão todos condizentes para que a pessoa possa ser transportada com segurança, se não há algum grau de patógeno que possa contaminar a equipe de voo etc e, em paralelo, a todo o momento estará em contato com os pilotos de voo do dia para verificar itens como, se a meteorologia está propícia para o voo, aeroportos mais próximos para pouso etc.
Por fim, em 13 anos de existência do batalhão, já foram realizados cerca de 13.700 voos dos mais diversos tipos, em atendimento de acidentes de trânsito, afogamentos, transportes de órgãos, apoio a Defesa Civil, combate a incêndio florestal, transportes aeromédicos, atendimentos de casos clínicos e traumas, dentre tantos outros apoios. Sendo que neste montante, cerca de 11.000 mil pessoas foram atendidas diretamente pelas aeronaves Arcanjo.
Créditos:
Texto: tenente Leandro Grande Cenedesi
Imagens: Divulgação CBMSC/BOA